2007-12-11

Reflexão

Este céu do meu Pico não deixa de me encantar e ajuda-me a reflectir, pois é amigos, entrei em período de pura reflexão. Este, será provavelmente, o meu último texto de 2007.

Todos os anos por esta altura fecho-me na minha concha e medito nos passos que dei, no que vivi e traço um rumo para o ano seguinte. Verdade seja dita que me afasto quase sempre do rumo que tracei...

Estou a pensar seriamente em terminar com o "Devaneios", este blog nasceu a 25 de Março de 2006, foi uma forma de publicar os meus estados de alma, a que chamo de minhas tonterias, de expor sentimentos e emoções. Com ele, ou à volta dele, entreguei-me por completo ao prazer de escrever, sem me preocupar, se isso iria ter ou não, algum interesse para alguém, o que importava é que o que eu sentia. Deixei-vos aqui imensos pedaços de mim espalhados ao acaso.
Penso ter chegado a hora de o deixar hibernar num sono eterno...
A todos aqueles que me têm acompanhado, desejo-vos um Feliz Natal onde o Amor vença o consumismo doentio e que o Ano de 2008 seja um excelente Ano para todos vocês.

8 comentários:

PostScriptum disse...

É sempre uma incontornabilidade: acabar um dia com o blog. Mas deixa que te diga uma coisa. Um dia volta-se. Por razões várias: porque se estabelecem por aqui afectos - ainda que virtuais -, porque vamos aprendendo, ensinando, trocando ideias, opiniões, deliciando-nos com alguma escrita - e é muita - de altissima qualidade; existe por aqui gente que deveria ser publicada para que todos pudessem ter acesso à sua arte. Infelizmente as editoras parecem continuar cegas ao fenómeno blogosférico.
Desejo-te muitas felicidades e deixo-te um "até à volta".
Bom Natal igualmente para ti. E um 2008 repleto de sonhos cumpridos.

Anónimo disse...

Tenho pena.
Blogues assinados fazem falta, oásis autênticos em desertos de anónimo escárnio e crítica.
Estou certo que repensará.
Pouco ou nada importa o que outros digam, quando é a nossa consciência que dita os caminhos que queremos percorrer.
Como Régio, devemos apenas ir por onde nos guiam os nossos passos.
"E nunca o caminho é longo, quando a vitória é o termo".

Bom Natal para si e todos os seus.

E que uma das prendas que receba seja a vontade de continuar com o blogue.

Anónimo disse...

olha eu não tenho blog ainda, mas leio os teus escritos e aprecio, gosto da maneira singela e sincera que comentas espero que tenhas um óptimo Natal e que o teu blog também volte após o natal entrando com Um Bom Ano Novo 2008, porque, gente da que dá a cara, precisa-se.

Bom Natal!

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá amiga, é sempre triste ver partir alguém.
E mais se esse algúem é das nossas Ilhas.
Somos tão poucos;
Eu embora viva em Lisboa hà 32 anos, nunca esqueço o cantinho que me vi-o nascer.
Sou da Ilha do Faial, tal como a Nanda.
Ultimamente criei um cantinho de fotos da Ilha.
Gostaria muito que as visses.
Deixo-te um abraço enorme e muitos beijinhos.
Fernandinha

Anónimo disse...

Aproveito para lhe desejar um Natal com muita paz em família e com os amigos que preserva, e um 2008 repleto de concretizações.
"Pelo sonho é que vamos..." disse alguém e acredito que sim.
Acabar com o blog é uma opção que deve ser respeitada, mas aqui deixou as suas impressões e falou da ilha do Pico, uma ilha de que gosto mto, e visitar o seu blog foi vir ao Pico e saborear a maresia.
Um abraço
Beta

Anónimo disse...

Por a Theresia ser uma pessoa sensível aqui me aventuro a deixar este texto que foi escrito num momento de inspiração quando, numa noite do fim de julho de 2002, na Aroeira, lugar onde presentemente resido, envolvida pelo perfume da resina dos pinheiros, derretida pelo sol da tarde, assaltaram-me à memória as recordações do alegre e descontraído tempo dos dezanove anos e do meu grupo de amigos de então. Com alguns ainda mantenho o contacto, amizades eternas e boas, com outros, infelizmente por situações não esclarecidas, comportamentos infantis e algumas teimosias não nos falamos mas o tempo opera milagres assim o queiramos...
Mais uma vez lhe desejo um Natal pleno de paz e ofereço-lhe o A voar nas asas de uma garça, escrito com pseudónimo.
Elisabete

Esta é uma singular noite de verão. No céu negro e imenso a lua sorri majestosa e no caminho de terra que faz o percurso longo e serpenteante rente ao mar, ouve-se os grilos que cantam na erva descuidada e um cagarro solta o seu grito alto. Ao longe no horizonte marítimo, pequeninas luzes marcam a presença dos barcos de pesca iluminados pelo largo luar que no calmo oceano vai desenhando brilhantes caminhos de sonhos e poesias. E o viajante que parou para descansar do seu périplo nocturno, senta-se na rocha negra junto ao mar, mergulha os pés na água fria e divaga para si: gostava de estar ali, naquela azáfama e participar da simbiose entre o homem e o mar, acompanhar os movimentos dos braços fortes de veias salientes, queimados pelo sol impiedoso em dias longos, braços que lançam, em gestos vigorosos e largos, grandes redes que depois serão puxadas já preenchidas com peixes vermelhos, azuis e prateados que brilham ao luar e acabam a saltar no chão da embarcação. Nestes pensamentos sente-se feliz e livre. Fixa a imagem e tira uma fotografia que irá ampliar, escolhida entre as muitas que registou nesse dia. Então respira fundo absorvendo o ar salgado e voa nas asas de uma garça.
De uma casa de pedra e cal com janelas de guilhotina abertas e porta escancarada, pintadas de vermelho fresco, sai o som quente e ritmado de música do Brasil que se espalha baixo e suavemente até ao exterior da habitação, envolvendo todo o ambiente. É de Caetano Veloso a voz e a melodia. Depois, talvez se ouvirá Chico Buarque e Bethânia cujas vozes embalarão a noite. Na esplanada da casa, debaixo dos ramos largos de uma amoreira, um pequeno grupo de pessoas sentadas em cadeiras de palhinha e despojadas das armaduras da rotina diária, conversam despreocupadamente baixo para que não se percam os mágicos sons desta noite de verão. E a rua é a descer em direcção ao mar e ao basalto negro das rochas que desenham a costa que a espuma branca abraça voluntariosa.

A noite está quente mas não abafada, uma suave brisa refresca os rostos e os braços dourados pelo sol do estio. De vez em quando alguém solta um riso aberto e as bebidas são frescas e cheiram a limão. Um cão deitado na soleira da porta suspira prazenteiro e o ar nocturno traz o cheiro doce da uva branca que será colhida em Setembro. O concerto de Caetano ao vivo faz a ligação com o mundo exterior, até agora necessariamente distante: no cd está registada a voz da multidão eufórica que acompanha, em uníssono, o refrão e o violão do baiano “... cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...” e alguém vê as palmeiras, as praias sem fim de areia fina e branca e sente a Gabriela Cravo e Canela que no seu bambolear natural se aproxima dele e lhe dá um beijo... sonhos inconfessáveis numa morna noite de verão.

E conversa-se, na esplanada da casa de pedra e cal, sobre viagens a ilhas de perto e a lugares distantes, percursos de vida sem se nomear os curriculum vitae que hoje não contam para nada, filmes vistos no Inverno, leituras e livros, poemas, pinturas e retratos, encontros e desencontros, ausências e presenças, sobre a insustentável leveza do ser e o peso insuportável da espera... Recorda-se o já distante tempo de estudantes, as coloridas noites de festas e as madrugadas de conversas, risos e abraços, confissões de gostos e desgostos, amores e desamores, os bons tempos em que havia cumplicidades e o futuro vinha carregado com uma esperança anunciada. Estas pessoas estão na casa dos trinta anos e gostam de recordar o passado que os une e as vivências que os ajudaram a crescer e falam da amizade. Este sentimento há quem diga que é um tesouro que podemos encontrar, a tal pedra preciosa que se dá e se recebe, sem porquês mas com muita liberdade.

Outro cagarro sobrevoa o lugar e grita.

São onze horas da noite, aquela hora quase encantada porque ainda não bateu a meia-noite e esta convida a ser longa porque o reencontro aconteceu. Mas entre a terra e o céu há uma dimensão imensa e os astros que brilham lá no alto nunca nos deixam sós e tristes, convidam à contemplação e a pensar na existência de um Deus e no cosmos e nos porquês da vida, de onde vimos e para onde vamos e na importância de estarmos por cá. O que perdemos e quem perdemos? Confortavelmente se exclama: “nada se perde e tudo se transforma!”. Poderemos aceitar as mudanças nos outros se interiormente o quisermos.
A casa fica numa ilha. Espaço geográfico onde à noite o céu é inigualavelmente escuro e as estrelas brilham mais, o cheiro da terra é intenso e húmido e o vento traz o perfume do mar profundo que é um rei poderoso. Num lugar assim ainda se conversa devagar ao cair da tarde acompanhando o voo baixo de uma gaivota.

Ao longe, outro cagarro grita.

O viajante levanta-se da pedra onde se sentou por instantes para contemplar a paisagem simples mas poderosa. Regressou do seu voo de garça e tem de se fazer ao caminho... Agarra numa pequenina pedra negra molhada, sente-a na palma da mão e arruma-a na bolsa junto às outras que amealhou na viagem. Lá longe poderá apertá-la junto ao peito quando sentir saudades. De manhã bem cedo irá de barco até à ilha mais próxima para descobrir mais encanto e silêncio.

As hortênsias lilases estão floridas e belíssimas nesta extensa e clara noite de Agosto. Poderosas no seu esplendor e singeleza. Abertas. Vivas.

Para quando este reencontro? Pode ser apenas no imaginário de cada um de nós porque os bons momentos vividos pela alma não se perdem nunca. Ficam bem guardados naquele quarto do coração mobilado com a amizade.

A lua continua alta e os barcos regressam a terra, carregados de peixes, luar, cansaço e alegria.

Maria Silva disse...

Olá amiga!

Bom Ano de 2008 e toca mas é a retomar este espaço.

Bjs

theresia disse...

Caro anónimo

Publiquei o seu comentário por ser inofensivo, porque acredito que me conhece e achei-lhe uma certa piada. Vejamos no seu texto diz:"...porque, gente da que dá a cara, precisa-se." Eu acredito nisso, temos que assumir aquilo que somos e quem somos, mas lanço-lhe um desafio: os comentaristas também devem dar a cara. Aceita o desafio? Um óptimo 2008 para si.