2007-03-25

Como a música...

O tempo parou. Lá fora nada existe, só nós dois aqui, entregando-nos de corpo e alma ao momento presente. Tu e eu sussurando conversas que mais ninguém pode ouvir. É o nosso momento. O minuto seguinte, o dia de amanhã não existe, só existimos os dois. Encosto a cabeça ao teu peito e ouço dois corações, talvez, batento na mesma dimensão. Lá fora tudo vagueia em ondas de mar beijando pedras negras enfeitiçadas pelo Pico. Nós, continuamos aqui, lançado ternura e magia, numa entrega que está para além das palavras. O amanhã há-de nascer e talvez a magia se tenha perdido, não importa! O que importa é este momento em que tu e eu somos um só. Acaricias o meu cabelo e procuras a minha alma e, ali estou eu, de alma aberta e livre entregando-me a ti. Lá ao fundo o Pico é uma presença neste tempo que tirámos para nos entregar de corpo e alma ao sabor da vida.
Tal como Pessoa dizia:
Sim, como a música, sugere
O que na música não 'stá
Meu coração mais quer
Que a melódia que em ti há...
Amar-me? Quem crerá? Fala
Na mesma voz que nada diz
Se és música que embala.
Eu ouço, ignoro, e sou feliz.
Nem há felicidade falsa.
Enquanto dura é verdadeira.
Que importa o que a verdade exalça
Se sou feliz desta maneira?
(Fernando Pessoa - Poesias inéditas)

2007-03-23

Gostar ou Amar...

A palavra gostar para mim lembra-me sempre uma comida, uma bebida, uma peça de vestuário, as flores que recebo sobretudo se forem amarelas. Amar é diferente. Eu Amo pessoas. Os meus filhos num Amor incondicional que não tem príncipio e fim; o meu companheiro amo-o duplamente porque é o homem que escolhi para a minha caminhada de vida e porque é o pai dos meus filhos (que foram concebidos num acto de Amor total); os meus Pais que me deram a vida e me apoiaram até nas decisões mais difíceis; a minha irmã com quem falo de tudo sem ter paraísos secretos; os meus amigos (só os que merecem esta palavra) a quem me dou integralmente e que me amparam nas quedas e quando os sorrisos me iluminam o rosto. Amar não é um sentimento só entre um homem e mulher é um sentimento de partilha e de entrega que se oferece àqueles que estão no nosso coração. Por isso amo incondicionalmente, sem barreiras, amarras ou preconceitos. Amo e dou-me intensamente em cada gesto, em cada palavra, em cada sorriso ou lágrima. Por isto tudo, nesta minha passagem na vida, sintam o meu sorriso, as minhas lágrimas, porque o meu AMOR é vosso, como rajada de vento norte beijando de passagem as flores da vossa alma...

2007-03-15

Nas asas do tempo...

Por causa dos comentários de um "amigo antigo" vieram-me à memória pessoas importantes na minha vida que não fazem parte deste meu tempo presente.
O meu avô paterno, que do alto do seu 1,80m, só emanava ternura e carinho (foi ele que me ensinou a ler e a escrever, ainda eu não tinha entrado para a Primária);
A minha avó paterna, pequenina, franzina e de um dinamismo fora de série que impunha respeito ao marido e aos quatro filhos que tiveram;
O meu avô materno, um homem dócil que escondia dos meus pais as minhas diabruras e algumas das quedas que eu dava porque decidia constantemente trepar às oliveiras;
A Dª Ana, mãe do meu companheiro (desculpem a palavra sogra soa-me sempre a uma conotação negativa), que com a sua difícil vivência me ensinou a amar mais e mais e aproveitar o momento presente. Estes já partiram, o tempo só os traz até mim na memória.
A minha grande amiga Teresa, andavámos sempre juntas, sabiamos quase tudo uma da outra (nunca se sabe tudo realmente de ninguém), mesmo depois de eu estar no Pico ainda nos escrevemos durante longos anos. Agora não sei nas voltas da vida por onde anda, se calhar procura o tempo perdido;
O Emanuel, doce e calmo que me limpou muitas lágrimas que nunca foi ele que causou. Ainda hoje tenho em casa dos meus pais o retrato a carvão que de mim fez. Perdi-o neste ritmo sucessivo de tempo que teima em não parar;
O Fernando Gil, de viola ao ombro e bloco de desenho na mão. Acredito que ainda hoje viaja nos acordes da vida com a sua viola e com o bloco de papel branco pronto a desenhar. Não o sei só imagino.
Para eles envio o meu carinho e, se por acaso, me lerem dêem notícias. Às vezes o passado e o presente andam de mãos dadas...

2007-03-12

Mas que três...

Vivemos a maior parte do nosso dia-a-dia, diria mesmo da nossa vida, no local onde trabalhamos. Por isso devemos tentar ter uma relação saudável com aqueles com quem convivemos várias horas diárias. O Grupo do Museu do Pico tem apenas 13 elementos e divide-se pelos três pólos: "Museu dos Baleeiros", "Museu da Indústria Baleeira" e "Museu do Vinho". A minha paixão é o Museu dos Baleeiros (ainda sou despedida por causa disto, mas é a verdade). Procuramos viver o dia-a-dia num ambiente de camaradagem.
Para os mais conservadores tenho de referir que o conteúdo da garrafa que a Lauri tem na mão, não foi só ela que o bebeu, eu e o Rui também demos uma ajuda. Esta foto foi tirada fora das horas de serviço e em clima de festa de natal de 2006. Dentro do serviço somos todos muito certinhos.
Quando tiver uma foto dos 13 prometo publicar, ao publicar esta não me veio ao pensamento excluir ninguém, apenas é a única que tenho.

2007-03-11

o fim ou o princípio...


Olho o sol a deitar-se de mansinho nos braços do mar... deito a minha cabeça no teu colo e fico ali quietinha. Tenho até medo que os minutos nos ouçam e a magia se perca. Sinto o calor do teu corpo e o teu cheiro entranha-se na minha alma, o tempo pára, nada se agita, só o som dos nossos corações a bater e as suaves carícias que trocamos acompanham o ondular das ondas. Nada mais existe para além de nós e da noite que se anuncia. Ao longe ouve-se o rumor do mar cantando canções de amor às negras pedras que o rodeiam...
Eu continuo deitada no teu colo e em mim todas as emoções se perdem no carinho dos teus sussuros. Olho a noite a chegar e pergunto-me se é o fim ou o princípio? De quê? Que importa! Lá fora o dia adormece e a minha cabeça no teu colo vagueia como alma vagabunda na busca dos sentidos...



(Foto: João Pedro)

2007-03-10

Sentimentos...



Três gerações diferentes, um sentimento comum: A Amizade. Numa sociedade materialista e fria é cada vez mais difícil ter amigos, amigos daqueles verdadeiros que nos enchem a alma com carinho, cumplicidade e ternura. Tenho a sorte de ser Amiga destes dois. A Dª Alice, uma Senhora que com 82 anos está muito "à frente" das mentalidades bolorentas de alguns da sua idade e até mais novos. O Paulo, "o meu irmão mais novo", é de uma irreverência doce e peculiar, foge a todos os convencionalismos, é um ser humano fora do comum, talvez por isso incomode alguns que só conseguem ver o exterior. Eu tenho a sorte de ler-lhe a alma. Une-nos um forte sentimento que muito poucos conseguem compreender, essencialmente aqueles que não conseguem deixar os sentidos perdidos na alma e o coração voar livre nas suas emoções. Os olhares dizem mais que mil palavras, eles são o reflexo do que nos vai dentro do peito. Obrigado por existirem.


(Fotos: Helena Barreto (minha casa 9-03-2007)

2007-03-05

Para ti Bola Maria...

Não posso olhar-te e ver-te parada e doente. Dentro de mim tudo me dói, as lágrimas teimam em cair, não suporto ver-te assim. Que falta sinto de te ouvir miar quando chegava a casa para te dar comida, de te ver correr pelo quintal e trepar a videira. Estás ali quietinha, quando chamo por ti olhas-me com um olhar triste, como quem diz: "O que fizeste?" sim fui eu que te levei para seres operada, fui eu que estive contigo, mas tu não entendes o porquê. Fiz tudo para não teres de sofrer e agora vejo-te triste e em sofrimento. Não sei o que possa fazer Bola Maria, eu tentei o melhor para ti, nunca pensei que ia causar-te tanta dôr. Sabes o quanto te amo, conheces-me muito bem, aliás quando venho chateada do Museu, tu nem sequer mias, passas por mim de mansinho e ficas sentada à espera. À espera de quê? De que eu te dê comer, atenção e te faça uma festa. És mesmo importante para mim e não lamento dizê-lo de que o és muito mais que muitas das pessoas com eu me cruzo na vida. Luta Bola Maria, luta pela vida, quero que continues a fazer parte da nossa família. Entraste na nossa vida porque o João Pedro queria um gatinho, foste encontrada na rua sem dono há quase oito anos, a partir daí fazes parte de nós, és um membro da família e todos nós te adoramos. Acredito que vais vencer esta batalha, preciso que venças esta batalha, sem ti a minha vida fica mais vazia.