2006-06-23

Quando o Sol se deita...

Olho o Sol a adormecer por detrás do Pico, mais um dia se acaba, mais uma noite começa. Nada morre, tudo se renova... os dias e as noites seguem o seu ritmo normal, sem compassos ou angústias de espera. Pergunto-me porque seremos nós tão complicados? Porque complicamos o simples... tudo se renova, uma flor morre, outra nasce... Tudo é simples na natureza, até os animais são simples, vivem ao sabor da corrente, das ondas que se agitam no mar ou na sua calmia. Só nós humanos complicamos tudo. Porque será que deixamos a vida nos fugir por entre os dedos, como pequenos grãos de areia? Porque será que exigimos sempre mais e mais? Depois, às vezes, encontramos as piores saídas, não aguentamos a sobrecarga da vida e escondemos a cabeça na areia ou pura e simplesmente pomos um fim, quando ainda tudo estava no início! A vida deve ser amada, vivida e respeitada, deveriamos ser como os animais, um passo de cada vez, um amanhecer depois de um anoitecer de cada vez... Amo a vida, mesmo com esta inquietude que me é peculiar. Amo o dia que nasce e a noite que me adormece nos seus braços. Amo olhar o Pico, deleito-me com os seus verdes em tons de prata, com o mar que dança rodopiando em seu redor. Amo e quem ama está vivo, só no amor se encontram as respostas, só nos amor se deixam as perguntas. Amo tudo e nada. Amo simplesmente. Amo cada dia que a vida me dá e apaixono-me por cada noite em que adormeço. Só no amor se encontra a paz e se desencadeiam as inquietações, só está vivo quem ama...


(Foto: minha - da minha janela - 30-04-2006)

2006-06-13

O Porquê dos Devaneios...

Para os que têm pachorra de ler os meus "posts" venho levantar um pouquinho mais do véu... Este blog chama-se "Devaneios" porque o que escrevo é isso mesmo, devaneios. É um blog que foge à má-língua, aos assuntos políticos... é um blog onde a nudez das emoções, sensações e pensamentos se misturam... Sou eu que me retrato, que me dispo de conceitos e preconceitos e deixo as teclas livres ao sabor da alma... Por opção minha não o divulgo muito, porque é um filho que quero quase só para mim e porque sei que é dificilmente entendido... As emoções não são fáceis de perceber. Como dizia Fernando Pessoa no seu heterónimo Álvaro de Campos "Depus a máscara e vi-me ao espelho. Era a criança de há quantos anos. Não tinha mudado nada... É essa a vantagem de saber tirar a máscara...". Sou uma alma inquieta, pobres são para mim as almas quietas, que não se interrogam, que se acomodam e vivem a vida cheios de falsas certezas, que riem tolamente para parecerem felizes, para mostrar aos outros que são felizes. Eu sou feliz e triste, depende do momento, mas recuso-me a acomodar-me, recuso-me a ser aquilo que querem que eu seja. Este blog é o meu cantinho, onde as emoções à flor da pele vagueiam em palavras, rodopiam em magia e transmitem a razão de estar viva. Deixo-vos um pouco de mim assim :
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração"
(Autopsicografia - Cancioneiro - Fernando Pessoa)
Entendam como quiserem. Eu vou até ao Martinho da Arcada beber um café com o meu amigo Pessoa...

(Foto: minha - Prainha do Norte - 10 de Junho)

Abraços da noite

O Sol adormece de mansinho nos braços da noite, embalado em cantigas de dormir pelo vento Norte... Desaparece suavemente, dando lugar à noite em brilho de lua cheia... Olho o fim do dia e o começo da noite, nada morre, tudo renasce. A vida sucede-se, repete-se ou deslumbra-nos por completo numa reviravolta total. Nada é igual, ninguém é igual, somos viajantes deste espaço que se repete sem nunca se repetir... Nós é que teimamos em repetir a vida em gestos ou acasos, porque é mais fácil não questionar, não mudar, continuar quietos no nosso cantinho sem ouvir os clamores da natureza em gritos d'alma... Que bom seria se tirassemos as máscaras, se nos assumissemos como seres inquietos e cheios de dúvidas, como seres que choram e riem pelos caminhos que trilhamos na vida.
É tão bom deixar a alma pairar na natureza, deixá-la adormecer com o Sol, embriagar-se com a noite e renascer com o dia novo... Eu deixo a minha vida andar ao acaso nas asas das cagarras, porque a liberdade do nosso sentir não pode estar preso, nem em gaiolas douradas...


(Foto: minha - Prainha do Norte - 10 de Junho)

2006-06-11

Elo mais forte 2

Notem a diferença do último post para agora. O Júlio Afonso está enorme, já tem um doce aninho de vida. Continua muito simpático e participativo, já diz mamã, papá e papa. Começou a dar os seus primeiros passos nesta caminhada que será a sua vida.
Adora estar sentado no chão a brincar com pedrinhas, é doido por um colinho e que brinquem com ele.
O Júlio Afonso é o nosso docinho, vai crescendo e cada vez nos vamos afeiçoando mais a ele.
É ele que lidera o grupo, ou seja giramos à volta das suas vontades e a única coisa que queremos todos é vê-lo sorrir. Coitado anda de colo em colo, às vezes penso que ele nos acha uns chatos, mas depois ele dá-nos um doce sorriso e nós ficamos todos derretidos e lá continuamos à volta dele, se calhar boicotando aquilo que ele quer fazer de livre vontade... Pergunto-me o que ele pensa deste grupo de doidos, já não faltará muito para ele nos dizer que não quer ou que quer, já não faltará muito para ele nos mandar "dar uma volta" quando se sentir pressionado. Até lá Júlio Afonso vais ter de aturar estes doidos, que apesar da idade, teimam em não crescer.


(Foto: minha - Prainha do Norte - aniversário André 10-06)

2006-06-10

Fogo de ser...

Estou de volta às teclas e á minha janela que dá para o mar e para o Pico... Voltei sempre nesta maldita incerteza de nunca saber se parto ou se estou... Olho da janela o mar calmo que desmaia suavemente sobre as rochas e revejo a "Lagoa do Fogo" imponente e esbelta, igualmente intacta ás mãos do homem...
Pronto regressei de São Miguel, estou de novo no Pico e de novo me assalta a dúvida se sou ou não pertença desta ilha. Chego à conclusão de que não sou de parte alguma, ou aliás sou de todos os lugares onde me perco em olhares de beleza infinita... Tenho em mim um bocadinho de toda a beleza que me rodeia e no fundo, bem no fundo do meu ser, não pertenço a lugar nenhum nem a ninguém... Serei sempre uma alma inquieta e perdida, buscando o azul de cada sítio que me rodeia, de cada lugar onde me encontro... O Pico é o meu porto de partida e de chegada, no entanto nem os seus abraços me prendem, eu vagueio em mares e marés, em verdes de vários tons, em fogos que ardendo não se extingem... Continuo a procurar-me neste fogo de ser algo que eu não sei o que é, talvez seja a imensidão da montanha do Pico, o infinito da "Lagoa do Fogo"... talvez seja só a procura dos lugares onde os meus olhos repousam em belezas infindas...


(Foto: minha - Lagoa do Fogo 8 de Junho)