2007-11-25

Noite luz..

O Sol deita-se de mansinho no mar. A lua vem beijá-lo devagarinho e aconchegá-o em lençois de espuma branca.
Tudo pára, o tempo deixa de existir, somos só nós a olhar o chegar da noite, não de trevas, mas de luz...
Olhamos o mesmo pôr-do-sol, a mesma lua que o beija e deixamo-nos viajar em pensamentos de amor, alguns só pensados, outros tantos vividos. Ali somos só nós e a natureza infinita que nos rodeia. Ali sou sereia em asas de vento norte e tu, bem tu, és o encantador de sereias que navega solitário...
Não necessito de dizer que te amo, porque amo-te tão simplesmente como o Sol adormece ou a lua nos embala. Não quero palavras, quero-te no silêncio, no suave murmurar das ondas a desfalecer de prazer nas pedras negras, na lua cheia que nos ilumina...
Quero-te hoje e sempre, quero viver os nossos sonhos a dois, o entrelaçar das mãos que nunca se gasta, o beijo/desejo murmurado baixinho... Quero-te sempre, nas asas das gaivotas, nos gritos oprimidos no peito, na razão sem razão para dar ou estar...
Quero-te, sem te querer meu, não te quero preso a mim, não te quero com obrigações ou falsos moralismos, quero-te livre assim, em asas de gaivotas, em mares desconhecidos, tempestades violentas, mar azul em acalmia de Verão... Quero-te tanto que chega a doer, dói a dor de não te ter perto de mim mesmo quando invades os meus pensamentos e só tu existes...
Olho o Sol a adormecer no mar e a lua a beijá-lo de mansinho.
Tu e eu deitamo-nos em noites de luz...

2007-11-16

Sonhei-te...

Ontem sonhei-te.

Estávamos de mãos entrelaçadas a olhar o mar, sem palavras, só as nossas mãos falavam em gritos de gaivotas que esvoaçavam. Não nos olhávamos, o nosso olhar perdia-se no infinito azul e a nossa alma vagueava nas pedras negras salpicadas de espuma branca.

Ontem sonhei-te. As nossas mãos diziam todas as palavras que saíam das nossas almas. Estávamos ali, perdidos no tempo e no espaço e amávamo-nos totalmente sem sequer nos tocarmos. Era pura sintonia.


Ontem sonhei-te, sabes a mar e a chocolate. És vento norte em que tudo esvoaça, até os meus beijos.


Ontem sonhei-te, olhávamos o mar e as nossas mãos entrelaçadas tocavam a mais bela melodia, era como se os nossos corpos se entregassem por completo fazendo um só corpo, uma só música que entoavam por nós.


Ontem sonhei-te. Hoje ao acordar as nossas mãos não estavam unidas e o nosso sonho voava nas asas das gaivotas e, cada um de nós, buscava um outro sonho...

2007-11-12

Vulcão adormecido...

"...vamos rebentar o vulcão adormecido da fé dos católicos do Pico..." esta frase é do meu melhor Amigo, que por acaso, ou não, até é Padre. Não vou fazer aqui uma Catequese. O meu blogue é de sentimentos, sensações, desejos descobertos, de vida e de Amor. E a fé? Será que não é por ter fé que consigo partilhar convosco aquilo que sinto e penso? Será que se não tivesse fé não me esconderia numa concha com medo do que a sociedade poderia dizer? Pensem vocês, eu estou aqui, sempre despida de preconceitos aceitando aquilo que vocês conseguem ler no que escrevo (infelizmente alguns só lêem o que querem e não aquilo que eu quero dizer, paciência...).
Não vos vou falar de Fé, embora eu ache que se não temos Fé, não temos nada (entendo por Fé, acreditar no ser humano, dar, apoiar, estar disponível para...).
Falemos dos verbos que quase não existem no nosso actual vocabulário: O verbo Dar e o verbo Amar, onde andarão estes verbos? Depois de pesquisar descobri que foram substituídos pelos verbos: Ter e Comprar, porquê? já explico...
Temos de ter uma boa casa, um bom carro, um bom computador (se possível melhores que os do vizinho), temos de viajar, temos que nos mostrar, temos que ter roupas de marca, temos de parecer aquilo que outros querem... temos de...
Compramos tudo no supermercado, até compramos emoções , amigos, amores e tempo (ou pensamos comprar). Compramos aos filhos o computador de topo de gama, a playstation, o melhor telemóvel, porque não inventámos tempo para conversar com eles, para entender os seus sonhos, para aceitar as suas dúvidas e opiniões, para dar carinho, esgotámos o nosso Amor e o acto de lhes dar algo nosso. Não sabemos dar tempo para Amar, para escutar, para dar a mão, para estar em silêncio lado-a-lado partilhando emoções e sentimentos, para dizer simplesmente: "Estou aqui".
Com fé ou sem fé é urgente reaprender os verbos Amar e Dar e esquecer na ânsia do tempo, o Ter e o Comprar, senão não vislumbro o caminho para aqueles a que ousámos dar a vida. Acredito, ou tenho Fé, que os Homens vão entender as diferenças e voltar a conjugar os verbos importantes.

2007-11-07

Verdes caminhos...

Voltei anos atrás! Desci estas escadas de pedra muitas vezes. Hoje, os limos tomam conta delas, já não se podem descer (outras de cimento, deram lugar a quem quer descer até ao mar). Ao olhá-las repensei uma série de coisas, na minha memória bailaram imensos pensamentos, vi e revi a minha vida e cheguei à conclusão que breve foi o momento entre o passado e o presente, demasiadamente breve, como um "piscar de olhos".
Hoje sei que não tenho respostas, só perguntas. Não tenho certezas, mas muitas dúvidas. Tenho alegrias e tristezas misturadas como cânticos antigos. Tenho lágrimas e sorrisos tal como o mar passa de calmo a tempestuoso. Continuo sem saber para onde vou, ou onde estou. Revejo-me nos limos verdes que tomaram conta das pedras, como tantas coisas tomaram conta dos meus dias, algumas tão pequeninas que não valeram o esforço que fiz para as viver, outras grandes, enormes diria, que me fizeram viver dias em segundos de breve instante. Não sei viver no cinzento! Não gosto do cinzento! Amo intensamente, vivo tudo intensamente, não sei navegar neste mar da vida de uma outra forma. Tenho de estar apaixonada pela vida, pelas pessoas, pelo trabalho, pelos livros que deixo na mesa de cabeceira em lista de espera.
Já não tenho idade de mudar. Por isso que importa as respostas que não sei, as dúvidas que nunca serão certezas, as alegrias e as tristezas, os sorrisos e as lágrimas que andam todos à mistura num furacão de sentidos, o nunca saber qual é o caminho, a mania de não perceber a partida e a chegada, que importa? Vivo num dilúvio de emoções e são elas que dão côr à minha vida.



(Azenhas do Mar - foto de José Luís Ferreira)