2007-10-31

Em cantos de...

Poisam suavemente nas pedras, descansando do cansaço de longos voos, contam-lhes histórias de outros lugares. Olham o mar a quem chamam de Amigo e depois batem as asas em busca de alimento ou de outras margens. Perco-me a olhá-las, trazem no bico saudades das palavras e nas asas os anseios do meu sonho por alcançar e de tantos outros que realizei.
São livres, como livres deveriamos poder ser, sim nós os humanos, a quem foi dada a capacidade de pensar, de construir, de amar. Mas não! procuramos a mesquinhez, o matar, o dizer mal, o sorriso à desgraça dos outros. Isso não é ser livre é antes estar preso em grilhetas de uma sociedade que não consegue olhar o belo e perde-se no vazio dos sentimentos.
Elas, esvoaçam em bebedeiras de azul e espuma branca alcançando o paraíso que nós nem ousamos imaginar porque fechámos o coração e perdemos algures no espaço e no tempo a capacidade de nos darmos uns aos outros.
Sei que as gaivotas da Ericeira são iguais às gaivotas do meu Pico, sei que as cagarras(os) são iguais em qualquer sítio onde estejam e, infelizmente sei, que nós humanos somos iguais onde quer que estejámos.
Voo com as gaivotas e as cagarras, estou para além de mim e do todo e, quando volto ao meu lar, estou de novo aqui à procura das fantasias e sonhos que alguém me ensinou a Amar...


(Ericeira - foto de José Luís Ferreira)

2007-10-29

Para além de...

Ninguém sabe até onde nos levam os pensamentos, às vezes até nem nós próprios. Surgem ao acaso como o mar que se agita, a neblina que nos cerca, ou o luar que nos envolve. Perdi-me em mil pensamentos, busquei o Pico para além do horizonte e deixei-me enredar em sonhos de côr. Senti o cheiro a mar, esse mar que é presença constante na minha vida, senti o Pico, a minha montanha, como se ali estivessem prontos para ser tocados em sons de poesia ou acordes de mar revolto.
O que é estar longe? O que é estar perto? Não sei! Não procuro certezas ou realidades evidentes, vivo sempre num eterno trapézio. Procuro o quê afinal? Talvez procure o Amor em cada pedra, em cada onda, em cada luar, em cada ser que comigo se cruza, não sei, se calhar nem me interessa saber. Deleito-me à deriva em cheiros de mar, em luares de vida, em palavras ditas pelo olhar e outras tantas por dizer.
Encostada neste banco procurei o sentido ou o sem sentido dos meus dias.
Deixei-me voar! Para lá do horizonte tudo acontece...


(Ericeira 7 de Outubro - foto: José Luís Ferreira)