2009-11-12

PSD DÁ UM TIRO NO PÉ NAS LAJES DO PICO

Cláudio/Roberto vira Roberto/Cláudio

Num município politicamente equilibrado no contexto bipartido, não é normal um Presidente de Câmara não ser reeleito logo a seguir ao seu primeiro mandato. Para o caso das Lajes do Pico são genericamente apontadas duas razões cumulativas: falta de saber navegar no cargo por parte da Presidente cessante; e questões internas locais do próprio Partido.

Pegando na parte das «questões internas», aponto as seguintes notas que podem ser consideradas interessantes vitórias pessoais políticas de Cláudio Lopes:
- Ser chamado a dar uma ajuda às listas PSD das Lajes do Pico (uma ajuda suposta imprescindível para tentar salvar a situação);
- Ver Sara Santos finalmente afastada da presidência do executivo (uma 'pedra no sapato' que o acompanhava desde que foi 'forçado' a trocar as Lajes do Pico pela Horta a meio de um mandato);
- Voltar a ter uma presidência nas Lajes do Pico - a Assembleia Municipal - para melhor enfrentar Roberto Silva (ao invés de Paula Casals que tolerava Sara Santos intitular-se 'A Presidente do Município', Cláudio Lopes vai com certeza enfatizar que existem 2 Presidentes de Município - o da Câmara e o da Assembleia).

A longo prazo, uma parte da vitória pessoal de Cláudio Lopes pode ser, no entanto, o tiro no pé do PSD nas Lajes do Pico. E o PS e Roberto Silva souberam gerir bem esse tiro - a tomada de posse dos órgãos autárquicos e a 1.ª reunião da Assembleia Municipal mostram isso.

Conforme referiu Cláudio Lopes na sua intervenção, existiram contactos prévios entre PSD e PS acerca da constituição da Mesa para a Assembleia Municipal - ou seja, antes do jogo já todos sabiam da contenda e conheciam as cartas uns dos outros: o PSD jogaria o trunfo [11PSD+10PS] e o PS jogaria a carta [8PS+7PSD+6].

Vendo bem, a longo prazo até não convinha nada ao PS ganhar este jogo mas apenas esticar a corda para somar dividendos, porém sem esticar demais não fosse alguém do PSD ceder e alterar o resultado da previsível votação secreta...

Assim, Roberto Silva dá o mote no discurso de tomada de posse e, de seguida, o PS joga a carta na reunião de Assembleia e em versão 'soft', ou seja, em lógica matemática (em vez de lógica política) e sem afrontar Cláudio Lopes.

Na resposta, Cláudio Lopes mostra o trunfo e leva o PSD a dar o tiro - pim!:
- O Presidente de Junta das Ribeiras mantém-se colado ao Partido e enjeita a mensagem dos seus próprios eleitores acerca da Assembleia Municipal;
- Manuel Pimentel, instado a pronunciar-se, não intervém deixando no ar um NIM e perdendo parte do protagonismo ganho na Assembleia anterior;
- Cláudio Lopes é apupado na sua eleição.

Quanto a Manuel Costa, conduz com mestria a reunião de eleição da Mesa: o discurso elevado, o condescender (atipicamente) com o aplauso, e o refrear dos apupos - é um dos vitoriosos da noite.

O que ganhou o PS?:
- Com Cláudio Lopes na presidência da Assembleia Municipal, Roberto Silva ganha o trunfo da 'obstrução' para usar como margem de manobra - basta-lhe invocar efeitos actuais da antiga guerra Cláudio/Roberto;
- Com o PSD em toda a Mesa, o PS ganha uma oposição mais reduzida na bancada, salvo se Cláudio Lopes não resistir a substituir-se a Manuel Pimentel e liderar ele próprio a intervenção, neste caso descambando a Assembleia para uma chateza presidencialista contrariamente à Assembleia de Paula Casals;
- Com a solução decidida pelo PSD, Roberto Silva ganha uma Assembleia popularmente irrelevante - basta ver que, após a votação, a assistência abandona a sala e deixa Cláudio Lopes a falar sozinho sobre, exactamente, ...banalidades.
- E para daqui a 4 anos o PS ganha um posicionamento privilegiado para aumentar e continuar - veja-se o 'caso' da Madalena.


J. Pompeu Proença
(Membro da Assembleia Municipal pela lista PS)


Nota: Não se preocupem o Blogue não mudou de rumo... apenas cedi o espaço provisoriamente

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